Entrevista com José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior
Por Lenir Camimura
Com a experiência de dois mandatos na presidência da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp), Dr. José Reinaldo Nogueira de Oliveira Junior, assumiu a presidência da Confederação Nacional das Santas Casas (CMB) em janeiro. Eleito por aclamação, Dr. José Reinaldo vem se destacando no Setor, com uma liderança forte e de resultados. De acordo com ele, as atividades na Fehosp proporcionaram, além de experiência na gestão de uma grande federação, a oportunidade de ampliar a visão sobre o setor. Acompanhando as dificuldades enfrentadas pelas entidades, Dr. José Reinaldo aprendeu a avaliar as prioridades e criar iniciativas compatíveis com as necessidades do setor filantrópico. Ele destacou, ainda, que a qualificação é indispensável para a profissionalização do setor e ajuda a humanizar o atendimento. Em entrevista ao P&P – Saúde Suplementar, o presidente da CMB disse que a expectativa para seu mandato é que possam ser reproduzidas o modelo de sucesso implementado na Fehosp, criando, ainda, novas iniciativas dentro da Confederação. Outro ponto importante é que em São Paulo conseguimos trabalhar bem com as autoridades do Estado. Espero, agora como presidente da CMB, reproduzir essa parceria com os Governos dos demais Estados e, principalmente, com o Governo Federal.
P&P – Como novo presidente da CMB, quais serão seus principais pontos de atuação?
Dr. José Reinaldo – Pretendo, primeiramente, estabelecer uma consistência no setor filantrópico para que possamos fortalecer nossos ideais e trabalhar em soluções compartilhadas, assim, conseguiremos nos relacionar de maneira mais produtiva com as esferas governamentais e criar sinergia nas ações. A partir daí, elaborar medidas capazes de garantir a qualificação da gestão hospitalar e em conjunto, colocá-las em prática. Essa busca por uma homogeneidade no setor, no entanto, não significa que vamos ignorar as peculiaridades regionais. Sabemos que existem necessidades exclusivas que são tão importantes quanto nossas reivindicações comuns. A CMB vai dar atenção a essas questões locais. Queremos conhecer detalhadamente e auxiliar nas soluções.
P&P – Como a CMB vê a Saúde no Brasil hoje?
Dr. José Reinaldo – Não é de hoje que a Saúde Pública convive com uma grave crise, mas essa situação está cada vez mais crítica e exige eficiência e comprometimento dos gestores hospitalares e, principalmente, do Governo. Atualmente, as Santas Casas têm um prejuízo operacional de R$ 4,4 bilhões ao ano, resultando numa situação de precariedade e dificuldades para desenvolver uma boa gestão. Temos problemas graves e precisamos resolver. Vamos trabalhar para isso. Isso não significa que tudo esteja errado. A saúde evoluiu bastante nos últimos anos e o SUS é um modelo democrático e admirado em todo o mundo. Não devemos nos afastar do objetivo de assistência gratuita e universal. Estamos no caminho certo. Neste momento o que precisamos é de mais dinheiro e eficiência. É necessário ajustar e não revolucionar.
P&P – Quais os principais desafios do Setor Filantrópico para 2011?
Dr. José Reinaldo – O setor filantrópico enfrenta um desafio enorme com a desatualização da tabela de procedimentos do SUS, que tem gerado, como dissemos, um prejuízo operacional de R$ 4,4 bi/ano. Além disso, a falta de regulamentação da Emenda Constitucional 29, que fixa os percentuais mínimos a serem investidos anualmente na área pela União, por Estados e Municípios, também é uma das grandes dificuldades das instituições filantrópicas.
P&P – Qual sua posição em relação às declarações da presidente Dilma Rousseff e do ministro Alexandre Padilha sobre o fortalecimento das parcerias público-privadas?
Dr. José Reinaldo – Sou a favor do fortalecimento das parcerias público-privadas e acredito que essa estratégia é promissora, visto que, os parceiros privados foram capazes de desenvolver métodos de administração mais eficientes e têm muito a colaborar com a rede pública em matéria de gestão.
P&P – As Santas Casas são beneficiárias de projetos lotéricos, como a Timemania. Estas estratégias são suficientes e/ou eficazes para aumentar o financiamento do Setor?
Dr. José Reinaldo – Elas ajudam, mas não são suficientes. A iniciativa da Timemania tem com objetivo destinar 3% do valor arrecadado ao Fundo Nacional de Saúde. Como a Timemania tem aproximadamente arrecadação anual de apenas de R$ 200 milhões, a parcela designada para o setor filantrópico seria algo em torno de R$ 6 milhões ao ano. Esse repasse é reservado para melhoria da gestão das Santas Casas, mas até o momento, por questões burocráticas, nenhum centavo foi liberado pelo governo.
P&P – Qual a expectativa quanto à instalação da Frente Parlamentar das Santas Casas, que tem como coordenador o ex-presidente da CMB, deputado Antonio Brito?
Dr. José Reinaldo – Parte significativa das soluções para os nossos problemas depende de ações governamentais. Com a Frente Parlamentar, temos mais um canal de comunicação com o poder público e, assim, maiores chances de alcançar nossos objetivos. É, sem dúvida, uma iniciativa muito significativa para as Santas Casas.
P&P – Quais os principais pleitos da CMB, hoje, no Congresso?
Dr. José Reinaldo – Como prioridade, consideramos a regulamentação da Emenda Constitucional 29 e a atualização da tabela do SUS. Além da liberação e aplicação dos recursos da loteria Timemania (Lei 11.345/06), programas estratégicos para melhor integração da rede de serviços ao SUS, a capacitação de recursos humanos, o processo de Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social na área de Saúde (CEBAS), rediscussão de linha de crédito pelo BNDES e a redução da jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem (Projeto de Lei 2.295/00). São algumas das demandas do setor que a CBM está colocando em discussão e exigindo soluções rápidas.
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